terça-feira, 29 de janeiro de 2008

O Mobilismo, Herácleto de Éfeso

"Este cosmo, igual para todos, não o fez nenhum dos deuses, nem nenhum dos homens, mas sempre foi, é e será um fogo eternamente vivo, acendendo-se e extinguindo-se conforme a medida."

Passarei a decompor agluns elementos dessa frase do poema, analisar questões de significado, questões funcionais, implicações metodológicas mas, em todo o tempo, fazendo referência à minha formação filosófica pessoal. Por isso, peço desculpas a todos por qualquer divergência, mas defendo que qualquer análise trata-se tão somente de minhas humildes opiniões.
A primeira decomposição da citação que analisarei é "Este cosmo, igual para todos (...)". Primeiramente, sinto que a afirmação sugere uma unifomidade de acesso de todas as pessoas ao mesmo ambiente. Essa é minha primeira impressão. Me remete aos ditados "O sol nasce e se põe sobre justos e injustos" e "A chuva abençoa a todos". Mas, de fato, todas as pessoas estariam sujeitas à ação do mesmo ambiente? Não seria ele grande demais e repleto de variáveis atuando simultaneamente que teriam uma ação única a cada instante sobre cada pessoa? Não seria o ambiente novo a cada isntante? Talvez a resposta seja que todos estão sujeitos à mesma diversidade. Mas tenho a impressão que afirmações como a de Herácleto sugiram passividade no ambiente, e é com isso que não posso concordar. É o ambiente que se relaciona, ativamente, com o organismo, e assim se dá o objeto de Behaviorismo Radical: o comportamento.
Sigo analisando a afirmação implicita de que "Este cosmo (...) não o fez (...) nenhum dos mortais". Incluindo o nosso ambiente mais imediato, o planeta Terra, no que Herácleto está chamando de cosmo, não podemos concordar com sua afirmativa. O homem opera sobre o ambiente, o altera. É alterado por ele todo o tempo enquanto se comporta, mas o altera. Podemos dizer, na verdade, que praticamente todo o ambiente a que estamos sujeitos foi feito pelos mortais. Nosso cosmo mais imediato é todo artificial, social, humano.
Considere esse fragmento: "(...) mas sempre foi, é e será(...)". O passado não pode prever o futuro. O futuro pertence ao futuro, e estará sempre lá, confinado ao futuro. Em poucos momentos a flisofia deve ceder à lógica, mas esse é, sem dúvida, um desses momentos. O dado que temos de que algo sempre foi e é de alguma forma, diz apenas isso: esse algo sempre foi e é assim. Não se pode afirmar, por isso, que algo ainda será da mesma forma, somente por que o tem sido.
Porém, no final do texto selecionado para análise, Heráclito diz que "(...) [O] cosmo (...) [é] vivo, acendendo-se e extinguindo-se conforme a medida." E eu não poderia ficar mais contente ao citar Heráclito se não por ler algo tão verdadeiro. A metáfora de universo vivo, que me remete à palavra orgânico, que me faz pensar em intrincadas relações funcionais de eventos, em uma rede de acontecimentos simultâneos que se afetam mutuamente, me parece a base do Behaviorismo Radical e também do mobilismo. Atentar para os muitos aspectos do cosmo se relacionando é o que fará uma pessoa orientada por uma visão behaviorista radical de mundo. E, para mim, isso é belíssimo.